domingo, 5 de fevereiro de 2012

Post 2: Conto A Cartomante






Uma seqüência de ironias e metáforas desenha o conto A Cartomante, de Machado de Assis, a quebra da expectativa de um final feliz é a principail característica da obra, pois tudo nele (já a partir da citação “há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”) nos prepara para um final em que o misticismo imperaria. No entanto, seu final é o mais realista e lógico. A trama gira em torno de quatro personagens principais: Vilela, Camilo, Rita e a cartomante.
Os amigos de infância Camilo e Vilela, depois de longos anos de distância, reencontram-se. Vilela casado com Rita, que mais tarde seria apresentada ao amigo. O resto é paixão, traição, adultério. Rita dar vida ao perfil feminino característico de Machado: mulheres sensuais, “dissimuladas”, ambíguas, astuciosas e principalmente adúlteras.
A trama é repleta de "conversas" que o narrador estabelece freqüentemente com o leitor, é o recurso da narrativa onisciente, para dinamizar o relato da história acentuando os momentos dramáticos do texto, mantendo o leitor atento durante todo o desenrolar do conto.  “[...] voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta [...]” (p. 478). Este fragmento é irônico, pois o narrador descreve a mulher como um objeto, a única característica dada a ela no texto, é sua beleza e o fato de ser tola.
Rita e Camilo são apresentados e ganham intimidade após a morte de sua mãe. Quando sente sua atração pela esposa do amigo, tenta evitar, mas, é seduzido. Até que recebe uma carta anônima, que deixava clara a sua união com a esposa do seu amigo. Temeroso, resolve evitar contato com a casa de Vilela, o que deixa Rita preocupada e a leva a uma cartomante, achando que seu amante, Camilo, deixara de amá-la. No entanto, a cartomante já dá pistas de que é uma charlatã na passagem..“A senhora gosta de uma pessoa...” (p. 477), isso é um fato óbvio que não faz de ninguém grande descobridor.
Camilo recebe um bilhete de Vilela apenas com a seguinte mensagem: “Vem já, já”. Seu raciocínio lógico já faz desconfiar que o amigo havia descoberto tudo. Parte de imediato, mas fica preso no tráfego por causa de um acidente. Nota uma estranha coincidência: está parado justamente ao lado da casa da cartomante.
O narrador dá um sentido, mas deve-se entender que ele dá pistas, orientações que dirija o leitor a outra interpretação. A citação abaixo é dita por homens que tentavam tirar uma carroça do caminho de Camilo, daí subtende-se que essa carroça possa ter o sentido figurado de se passar pelas emoções de Camilo, ela era um obstáculo real no caminho, mas poderia ser o obstáculo que Camilo precisava passar que era o próprio orgulho, para procurar a cartomante a qual ele tanto renegara.
“_ Anda! Agora! Empurra! Vá! Vá!”
“Daí a pouco estaria removido o obstáculo” (p. 481).
Depois de um intenso conflito interior, decide consultá-la. Ouve tudo que queria, a cartomante usa frases animadoras e lhe promete felicidade no relacionamento e um futuro maravilhoso. “_ Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...” (p. 482).
Ao dizer isto, pode-se concluir que ela está sendo falsa e irônica, pois o rapaz pensa que ela levantou-se rindo por gentileza, mas pode-se pensar que ela ria por satisfação de ter feito mais um tolo.
 Aliviado, assim como o tráfego, parte para a casa de Vilela, sorridente e achando-se um bobo por pensar que talvez o amigo soubesse de alguma coisa.
Assim que foi recebido, pôde ver, pela porta aberta, além do rosto desfigurado de raiva de Vilela, o corpo de Rita ensangüentado. Seria, portanto, a próxima vítima com três tiros a queima roupa do marido traído.



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